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História e cultura

Por Everton Altmayer – Diretor de Cultura

Entre a Áustria e a Itália

O Trentino foi palco de disputa entre a Áustria e a Itália, quando os Estados nacionais começavam a surgir na Europa. Foram momentos difíceis, que muitas vezes dividiam a opinião da população trentina. Principalmente por sua passagem estratégica por entre os Alpes, a região sofreu algumas guerras.

Boa parte da atual área trentina era administrada pela Igreja, sendo responsabilidade administrativa do Príncipe-bispo de Trento. A instituição do principado episcopal remonta ao século XI, quando das divisões de feudos no Império Romano-Germânico de Carlos Magno. Os nobres bávaros comandavam boa parte da região alpina, que aos poucos foi criando sua identidade histórica, principalmente com o início do que se tornaria futuramente o Império Austríaco. No século XII, os condes do Castelo Tirol ( Schloss Tirol / Castel Tirolo ) na cidade de Meran ( Südtirol ) aumentavam sua importância na região, inclusive nas áreas eclesiais de Trento e Brixen (Bressanone). A importância do condado tirolês crescerá sobretudo pelo fato de seus governantes serem da mais importante linhagem real austríaca – os Habsburg. Com a administração dividida entre a Igreja e os Condes, a região que hoje compreende o Trentino , o Südtirol e o Tirol austríaco formaram durante séculos a Confederação Tirolesa, que possuía dois governos fortes: o conde tirolês (com sede em Meran e posteriormente em Innsbruck) e o bispo de Trento (com sede em Trento); importante, mas menos influente era o bispado de Brixen (com sede em Brixen/Bressanone).

Essa organização teve durante sua história casos de disputas territoriais e políticas internas, pelo fato de os condes e os príncipes-bispos possuírem eles próprios feudatários que lhe administravam os vales. Além disso, havia comunidades praticamente autônomas, que possuíam controle total de vales e pequenas áreas (como por exemplo, a Magnífica Comunidade de Fiemme , no Trentino). Somente no século XVIII, com as invasões francesas comandadas por Napoleão, houve mudanças políticas na região. Napoleão pôs fim ao Sacro Império Romano-Germânico comandado pela Casa da Áustria e cedeu ao controle do Reino da Baviera a região tirolesa, que passou a ser chamada Südbayern (Baviera do Sul). Essa medida descontentou profundamente a população apegadas a seus valores e tradições. Incentivados pelos nobres patriotas e pelo clero, os camponeses começaram a se organizar em grupos de resistência, que culminariam com a revolta tirolesa. O príncipe-bispo de Trento se refugiou antes da chegada das tropas francesas, mas o clero (principalmente os frades franciscanos capuchinhos) se mobilizou para auxiliar a população na resistência.

A sublevação tirolesa de 1809, chefiada por Andreas Hofer surgiu com a não aceitação do novo governo e das novas idéias trazidas pela ocupação franco-bávara. Nascido na pequena cidade de São Leonardo ( Sankt Leonhard- Passeiertal ) no atual Südtirol , católico fervoroso e muito apegado às tradições de sua região, Andréas Hofer chefiou as tropas dos atiradores (em alemão Schützen , em trentino Sìzzeri ) e foi responsável pela recuperação do Tirol das mãos dos bávaros aliados a Napoleão. O governo de Viena estava sob Napoleão, mas apoiados por grande parte do clero e pelo irmão do imperador, os tiroleses organizaram tropas de atiradores, dos quais os trentinos somavam 18 mil voluntários.

Em 1809, com a conquista de Innsbruck (capital do Tirol), instaurou-se um governo provisório e de notável cunho cristão, que durou até 1810. Dos trentinos inscritos na defesa, 4 mil tombaram em batalha. Uma grande heroína da resistência foi a trentina Giuseppina Negrelli, nascida na região do Primiero . Giuseppina era irmã de Giuseppe Negrelli, renomado engenheiro e idealizador do Canal de Suez. Assim como ela, Catarina Lang de Val Gardena (Südtirol), heroicamente lutou contra a invasão franco-bávara, auxiliando os patriotas tiroleses na defesa dos vales.

O governo provisório não recebeu mais auxílios de Viena que temia a ameaça francesa. Contudo, a resistência popular foi a primeira contra Napoleão, mostrando, assim, que o militar corso não era invensível. Sem auxílio de Viena, Andreas Hofer foi perseguido, preso e posteriormente morto em Mantova, pois Napoleão (através da ocupação) apoderou-se ao mesmo tempo do Império Austríaco e do Reino da Itália. Em 1810, a área que compreende o Trentino e o Südtirol foi incorporada por Napoleão ao Reino Itálico. No mesmo ano, a Áustria entra em guerra contra a França. Essa resistência tirolesa marcou o início das baixas da França, quando Napoleão com as baixas na Rússia será posteriormente destronado. A Áustria retoma em 1813 o Trentino e o Castelo de Buonconsiglio (sede do governo eclesiástico) , laicizando o governo do príncipe-bispo e incorporando seus domínios aos do Estado do Tirol e oficialmente em 1816, permanecendo assim por mais de um século.

 

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