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História e cultura

Por Everton Altmayer – Diretor de Cultura

I Guerra Mundial

A I Guerra Mundial marcou a história trentina como um período de disputas ideológicas e políticas, de sofrimento da população e de perdas humanas. No final da I Guerra Mundial (1918), ocorre a anexação da porção meridional do Tirol à Itália. Iniciou-se no Trentino um trabalho em busca da autonomia administrativa, trabalho este que já existia por parte dos deputados trentinos na Dieta Tirolesa, no período do Império Austro-Húngaro - vale destacar o trabalho de personagens importantes para a autonomia como Alcide De Gasperi e Pe. Lorenzo Guetti. 

Em 1926 o fascismo chega à região. Torna-se proibido o uso da língua alemã em Val Fersina (Trentino) e no Südtirol, e teve início o processo de italianização da região (sem grandes êxitos, mas com muitas conseqüências). Mussolini enviava colonos vindos do sul da Itália principalmente e de demais regiões para trabalharem e viverem no Trentino e no Südtirol, na intenção de mesclar a população e italianizá-los definitivamente.

Com as crises entre a população e o governo de Mussolini, ocorreu o triste episódio conhecido como Opção (um acordo entre Hitler e Mussolini que previa o repatriamento alemão para os tiroleses que entrassem nas terras do Reich); muitos sul-tiroleses deixaram as suas terras para seguirem para o Tirol austríaco, em busca de liberdade de uso da língua alemã e de sua cultura. Infelizmente, muitos tiveram seus sonhos frustrados, pois foram obrigados a serem colonos nas terras alemãs da então ocupada Tchecoslováquia. Com o final da guerra, muitos retornaram aos seus vilarejos e outros permaneceram na Áustria ou na Alemanha.

Em 1940, a Itália entra em guerra ao lado da Alemanha; com as baixas italianas da guerra, os alemães entram na defesa dos Alpes e em 1943 já controlam todo o Trentino-Südtirol e a área de população ladina do Vêneto (Belluno); Hitler determina a criação do Alpervorland (região dos Pré-Alpes), com o intuito de agregar as populações outrora austríacas ao Reich alemão. Em 1945 termina a II Guerra Mundial e a região retorna ao governo italiano, a língua alemã deixa de ser proibida para os tiroleses e mantém-se como língua oficial do Südtirol.

A busca pela autonomia

Alcide De Gasperi teve grande importância para a autonomia, pois trabalhava em prol desta causa desde o domínio austríaco e tornou-se o "presidente da reconstrução trentina". Nascido em Pieve (Tesino), estudou em Viena de 1900 a 1902 e lutou pelos direitos dos tiroleses de língua italiana, com projetos de construção de universidades italianas, inclusive no Tirol de língua alemã; dirigiu o jornal católico La Voce Cattolica , mudando o nome do mesmo para Il Trentino, acentuando, assim, sua posição em prol da identidade lingüística italiana de sua região.

Em 1911 é eleito deputado em Viena, tendo participado depois da I Guerra dos processos de anexação do Trentino ao reino italiano. Nunca participou do movimento irredentista (que buscava a separação do Trentino da Áustria e sua união com a Itália), mas soube defender a cultura trentina, sem causar indisposições com a população de língua alemã do Südtirol , historicamente unida e apegada ao Trentino.

Em 1946 é assinado o em Paris o acordo entre Alcide De Gasperi (Trentino) e Alfons Gruber (Südtirol), que confirma  as fronteiras ítalo-austríacas de 1918, mas prevê uma grande autonomia para a população de língua alemã do Südtirol em um quadro que compreendeu o Trentino, por sua história peculiar. Em 1948 o Parlamento italiano aprova o primeiro estatuto de autonomia especial do Trentino-Alto Adige/Südtirol . Em 1961, com os descontentamentos da italianização forçosa, tiveram início os atentados provocados em vales sul-tiroleses em busca de uma forçosa anexação da região com a  Áustria; houve uma pequena participação trentina, e o problema foi encaminhado para as Nações Unidas. A região de língua alemã foi inicialmente designada como Alto Adige-Tiroler Etschland (território tirolês no Alto Adige), transformado em 1971 para Südtirol (em italiano Alto Adige). Em 1972 surgiu o novo Estatuto da autonomia, que será inteiramente posto em prática somente em 1992. Em 1993, o primeiro presidente italiano visita Viena após um século de tensões diplomáticas. Também houve grandes incentivos para as populações de língua ladina do Trentino e do Südtirol .

Com a União Européia e o livre acesso entre os países europeus, muitos dos problemas políticos foram deixados de lado e projetos como o Instituto Ítalo-Germânico tornam-se realidade; as diferenças que as guerras impuseram parecem esquecidas e com o grande fluxo turístico. As regiões do Trentino, do Alto Adige e do Tirol unem-se cultural e economicamente. Figuras históricas como Andreas Hofer e Alcide De Gasperi são ainda lembradas com muito prestígio na região, principalmente por jamais desejarem discórdias entre as populações tirolesas de língua italiana, ladina e alemã.

A imigração

O grande período da emigração trentina para o Brasil ocorreu no final do século XIX. O enfraquecimento político do Império Austro-Húngaro e as baixas na agricultura trouxeram muita pobreza para várias regiões européias. O momento político da Europa não era fácil e muitíssimas famílias trentinas foram obrigadas a imigrar já antes da I Guerra Mundial. Em sua grande maioria eram camponeses, que devido às diversas crises, optaram pela imigração. Buscando viver em novas terras, muitos eram atraídos para a América, por conta da propaganda emigratória que os países americanos faziam. O Império do Brasil mantinha no Tirol um ofício de emigração, que atraía vários camponeses, com promessas de terra e fartura nas novas terras - o que se buscava na verdade eram mão-de-obra para as lavouras de café e pessoal para a ocupação do Sul do Brasil. Calcula-se que o número de emigrantes tiroleses para o Brasil foi o de aproximadamente 30 mil, saídos sobretudo das terras trentinas (com isso, regiões inteiras do Trentino tiveram grande queda no índice demográfico).

Os países que mais receberam imigrantes trentinos foram o Brasil, a Argentina e os Estados Unidos. Houve, porém, imigrações dentro da Europa, para a Áustria, Alemanha, França, Inglaterra e Iugoslávia, bem como para demais regiões da Itália. Para várias outras localidades, trabalhadores trentinos partiam em busca de melhores condições de vida, mas nem sempre foi isso o que encontraram. Dificuldades com a adaptação, a língua, moradia e emprego fizeram com que colônias inteiras sofressem anos de pobreza, superados apenas pelas gerações seguintes.

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